Capa -Arte
"Daniela Owergoor"
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Não usar sem a permissão do autor
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*Este conto é parte da Obra de Ficção Mística "Crônicas De Qédem"
A incomum nevoa alaranjada escondia as ruínas místicas das velhas construções que agora são conhecidas por “A cidade dos Antigos”. Do final da Ponte de Séfora, onde começa o Platô de Órion, podíamos vê-la ao longe, com o uso de binóculos eletrônicos especiais, cujas lentes feitas de partículas de taqion, fabricados em Meconái e presenteados ao patriarca de Aur, nos permitiam enxergar até mesmo as micro-fissuras dos varais feitos de yachalon, que um dia foram as armações que erguem a velha construção. Quarenta e duas residências erigidas ao redor do Templo de Machon onde os Ethanim realizavam os rituais. Velhas por serem antigas mesmo, e não por serem ruínas, uma vez que a ausência de tohú[1] na atmosfera de Aur não permitiria o surgimento de monturos formados pela ação do tempo, mesmo estando a “velha cidade” no deserto profundo, o deserto de Qédem.
- Você acredita realmente que ela esteja escondida ali? Dentro da Cidade dos Antigos? – perguntou-me S´thur na madrugada do primeiro dia de Tashrí, após o ritual em que as memórias dos Ethanim foram celebradas e que seus nomes foram invocados, através da mística e secreta oração, conhecida dos iniciados de “O Nome de Atiká de 42 Oti´Ot, em cada residência dos Sekudot. Uma celebração mística, rica em sabedoria, bela e repleta pela tradição, servida do vinho místico de Aur e acompanha de biscoitos feitos de leite de tachash e essência de q´namon.
- Assim diz a antiga agadá de Hamunná[2] e as palavras gravadas em Shab´ta numa antiga caverna em Zohar[3] na constelação do An Nahr[4].
- E o que diz a inscrição? Perguntou-me enquanto mantínhamos os olhos fixos na direção da misteriosa construção, cuja idade era de 47.766 anos. Haviam sido esquecidas ao tempo há 5.766 shanot, desde que os Iordei – Os Patriarcas Antigos – repousavam em suas Qufsim escondidas no Salão dos Segredos de Aur.
- “Dez vasilhas Ele criou. Modelou-as do nada e as preencheu com Sua luz pura. Seis não puderam contê-la e se romperam aprisionando em seus cacos a luz da criação. Os antigos chamaram-nas de “Centelhas do Ancião”. Elas foram espalhadas pelo universo, e aquele que uma delas encontrar, estudar e compreender tornar-se-á imortal, e o tempo para ele será como um rio cujos afluentes todos o conduzirão para o Mar de Atiká[5]” – recitei-lhe.
- É verdade o que dizem sobre Guardião? E que ele a carrega aprisionada dentro de uma esfera de chashmal atada a um cordão de tzváh[6]? Sua aparência, dizem é de um homem alto, cerca de 8.75 amót[7], cabelos e longas barbas brancas. Dizem que seus olhos são luminosos como a Estrela da Vida e que seus pés jamais tocaram o chão, nem mesmo nos dias antigos – expliquei.
- Ouvi rumores de que ele, o Guardião, não possui fala, mas sempre que abre a boca um som, semelhante ao “sopro do antigo[8]” se faz ouvir, acompanhado de centelhas do alfabeto divino que podem ser lidas pelo iniciado – falou S´thur.
- Disseram-lhe os místicos, que ele possui seis dedos em cada uma das mãos? Incomum para o Sekudá – perguntei-lhe.
- Não! Isto eu jamais tivera ouvido, nem mesmo da boca dos estudantes da Escola de Mistérios. Você está me dizendo que ele, o Guardião, é um alienígena? E qual será então a sua origem?
- Pense em um dos mundos do sistema Q´dmon. Esta pensando S´thur? Agora, procure por um, o único planeta cujos satélites somam seis. Achou?
- Col Echad! Sarim? Você está me dizendo que o Guardião da Cidade dos Antigos é um dos Príncipes Sagrados? Óhhh! Entendi! É por isto então que a agadá Hamunná que narra sua história conta que seus pés nunca tocaram o chão, nem mesmo nos dias antigos? Óhhh entendi.
O azul de Sirius era belo e intenso naquela noite. Abaixo dela, o Caçador exibia o seu cinturão adornado com três preciosas pedras e do outro lado o Argonauta içava suas velas preparando seu veleiro para singrar as estrelas. Tantos mundos, tantos mistérios tornando repletas nossas almas.
- Ouviu falar sobre a planta da Cidade dos Antigos? Dizem que Órion reflete-se sobre ela escondendo em suas dimensões um profundo mistério. Lembra-te da Khaláh?
- “Três Anciãos num carro virão...” – Sim, me recordo da Khaláh, mas que você quer me contar Beni´El? É certo que suas perguntas sempre escondem a intenção de abrir o estudante para que um mistério lhe seja revelado.
- É claro, você sabe que, os “Três Anciãos” são uma alusão às estrelas do cinturão de Órion e o que você não sabe S´thur, é que fisicamente existem “Três Anciãos” que são os Guardiões da Cidade dos Antigos, e apenas um deles é o que protege a “Centelha da Criação”. As “bordas” da constelação de Órion que se refletem também naquele lugar místico são chamadas pelos antigos de “Nativei Ha-Chaiim – As Linhas da Vida”.
- “Veleiros estelares singram as bordas de Órion, deixando atrás de si os rastros luminosos de suas passagens. Timoneiros atenciosos poetizavam seus mistérios, enquanto suas velas, sopradas por ventos solares, empurravam, para longe, suas místicas embarcações, na busca constante de mundos encobertos por mistérios divinos, conduzidos por canções entoadas pela voz das estrelas, revelando, aos espíritos despertos, as linhas da vida, com as quais marcou o Criador, as centelhas divinas, pérolas feitas de lascas de saphir, com as quais ele criou as almas daqueles que buscam por seus mistérios” – recitou S´thur o poema de Argos.
- Conheces o mistério do Templo de Machon? – lancei-lhe antes que seus olhos deixassem de contemplar a constelação de Argos.
- Eu ouvi dizer, na Escola de Mistérios, que o Templo é na verdade um portal para o universo de Qodesh e que ele é o 5º universo abaixo dos céus de Vilon.
- Sim! Isto também é verdadeiro e ainda outros mistérios elevados e que poucos tiveram oportunidade de ouvir. O Templo está diretamente conectado à Sexta Expansão, aos “Céus de Machon”, à Terra de Tevel, ao “Salão dos Segredos” onde há secretamente uma abertura para Pála que conduz diretamente para dentro da Câmara secreta dentro da Arazá d´Alahá – A Grande Pirâmide, e todos estes mistérios foram gravados na palma direita de Yachid, o 30º dos Ethanim com letras bio-luminescentes do alfabeto de Atiká. Assim, também, cada um dos outros Ethanim tem o seu mistério escrito em suas mãos.
O avir mizrach soprou vindo do deserto interior, trazendo o aroma do q´namon provocando imediatamente a ampliação das nossas consciências. Ao mesmo tempo, um bando de pássaros de fogo cruzou a noite estrelada logo abaixo da belíssima espiral galáctica, uma das satélites de Qédem visível nos céus.
- Beni´El? O que acha de irmos até lá? – lançou-me S´thur este surpreendente desafio pegando-me completamente desprevenido.
- É brincadeira, não é? Você está querendo ir até a Cidade dos Antigos? Ouvi bem S´thur? Há 47.766 anos ninguém coloca os pés nas areias míticas de Túvia[9]. Ainda não acredito que você está me propondo tal desafio!
- Existe alguma proibição para que os pés de dois iniciados da Escola de Mistérios pisem em Túvia?
- Não! Não existe qualquer proibição! Mas é verdade que há milênios ninguém sequer considerou a hipótese.
- Beni´El, existe uma kartis nessiá no final do Platô e eu sei, assim como você, que ela conduz diretamente para dentro da Cidade. Nós podemos caminhar até lá, e usá-la para atravessarmo-nos para dentro de Túvia.
- Pelas barbas dos Ethanim – exclamei – o que esperas encontrar lá S´thur? Não é possível que você esteja pensando no que eu imagino que você esteja pensando...
- Um dos Três Guardiões! – declarou-me apontando com o dedo indicador esquerdo na direção da Cidade dos Antigos.
- Benditas sejam as tranças do tachash! D´us! Ele está mesmo pensando naquilo que eu imaginava que ele estava pensando!
O desafio arrepiou-me a cervical e me encheu de temor e ao mesmo tempo aguçou profundamente minha curiosidade e o meu desejo em aceitar a proposta de S´thur.
- Esta bem! Você me convenceu! Vamos até a kartis nessiá e que as vozes dos Guardiões se façam audíveis em nossas almas.
Levantamo-nos e após pronunciarmos a Benção da Sabedoria dos Ethanim, iniciamos a caminhada até a passagem milagrosa, colocada no final do Platô de Órion. Esta kartis nessiá tinha a cor verde da pedra de Pála. Fora instalada na frente de um obelisco retangular feito yachalon em estado bruto, e, portanto, não possuía o brilho de um diamante trabalhado pelo artesão. S´thur parou por alguns momentos na frente da passagem milagrosa, respirou fundo e atravessou sendo transportando instantaneamente para dentro de Túvia. Segurei a minha sha´on com a mão direita e lancei-me logo atrás dele. Do outro lado olhei para a ampulheta preenchida com centelhas da nebulosa do relógio de areia. Nenhuma micro pedra havia descido para repousar no fundo da redoma.
- Beni´El? Olhe os céus. Parece que a névoa alaranjada apenas esconde a Cidade, aqui dentro os céus estão limpos.
- É meu amigo S´thur. Mais um dos mistérios de Aur. E agora? O que vamos fazer? – perguntei-lhe, uma vez que a iniciativa havia sido dele.
Estávamos no centro da Cidade, sobre a pedra de Pála que havia sido usada para a kartis nessiá. As quarenta e duas construções que davam origem à Cidade dos Antigos nos cercavam e à nossa frente, uma praça onde, dez bancos feitos de madeira de Ilon, estavam dispostos em círculos, no que me pareceu ser uma pequena praça.
- Você acha que foi aqui onde, um dia, os Ethanim e seus discípulos se sentaram para juntos, estudarem os mistérios do Sagrado?
- S´thur, eu ainda posso sentir a essência de suas presenças neste lugar – respondi-lhe apontando para a praça.
- Veja Beni´El – disse S´thur apontando para um local adiante da praça à frente da qual estávamos.
Um ponto luminoso surgiu, diminuto, a principio, por estar além do alcance de nossa visão, e que foi crescendo gradualmente à medida que se aproximava nos permitindo descobrir tratar-se de uma esfera luminosa de energia. Estacionou à nossa frente e logo e tão rápido quanto o piscar dos olhos, movimentando-se desenhou, no ar, a figura de um ser, com cerca de oito amót de altura.
- Pelas barbas do Sagrado – S´thur exclamou ao perceber que se tratava de um dos Três Guardiões da Cidade dos Antigos.
Enquanto pasmados admirávamos a figura alta que saia de dentro da luz, outras duas esferas luminosas surgiram vindas, cada uma delas, de um dos lados da praça. A segunda surgiu à esquerda, permanecendo suspensa no ar por algumas micro pedras da minha sha´on, enquanto a terceira veio direto da direita indo estacionar ao lado do ser que agora levitava sobre sua própria essência. Ao se aproximar, a segunda esfera luminosa logo tomou a forma do segundo Guardião. Antes que três das micro pedras da minha sha´on repousassem no fundo da redoma da ampulheta, os três seres já haviam tomado as formas os Príncipes Sagrados de Sarim. Uma visão mística de arrepiar as nossas almas. Um som mais belo do que todas as sinfônicas do universo executando juntas a Shari-Yah, encheu todo o lugar. Era o “sopro do antigo” e, conforme a tradição nos havia ensinado, nossos olhos viam as otiot sagradas do Shab´ta surgirem de dentro de suas bocas, escrevendo no ar, mistérios agora revelados, mas que ainda não haviam sido comunicados a nenhum ser no universo.
- Olhe Beni´El! Órion – convidou-me S´thur com o gesto de cabeça a contemplar a constelação do Caçador que numa visão mística, se mostrava agora nos céus sobre nós. As três massas solares principais de Órion emitiam pulsos espásmicos como se estivessem conversando umas com as outras, ao mesmo tempo em que os “Três Anciãos” levitavam à nossa frente, emitindo de suas bocas o som do sopro do divino.
- “Existem sessenta e seis mundos que orbitam os três principais sois de Órion e nós somos os Sarim que governam estes mundos. Ao mesmo tempo somos os Guardiões dos segredos dos Ethanim, os antigos patriarcas de Aur. Estamos lá e aqui, aqui é lá, e em todos os universos onde paralelamente a constelação existe” – foram as palavras impressas no ar através das otiot que fluíam das bocas das Chay´Ot[10] de Sarim que levitavam à nossa frente.
- “Cada um destes sessenta e seis mundos possui um único satélite, perfazendo junto com seus planetas um místico número que sustenta uma assinatura chamada pelos Príncipes Sagrados de “Ruchonit Galgalim[11]” – foram as otiot finais que fluíram das bocas dos Sarim, após as quais voltaram a assumir a forma de esferas de energias luminosas e desapareceram através dos caminhos por onde haviam surgido.
- Era isto que você esperava S´thur – questionei sem mover os olhos ou a cabeça para encarar o meu abismado amigo.
- Está brincando? Eu nem imaginava encontrar um dos Guardiões, quem diria os três juntos.
- Você a viu? Perguntei-lhe, referindo-me, é claro, à “Centelha da Criação” segundo a qual, a tradição nos havia informado.
- Sim, estava atada, como diz a agadá, ao redor do pescoço do primeiro Ancião, no cordão luminoso de Tzváh. Viu como brilhava?
- Elas existem mesmo S´thur. Somos os primeiros, em todos os universos, a ver, com nossos próprios olhos, uma das Centelhas da Criação. Imagine toda a Sabedoria contida nelas.
Algumas horas se passaram durante as quais discutimos o que vimos e ouvimos. Atravessamos a kartis nessiá de volta ao Platô de Órion. Terminamos a noite debruçados sobre o tabuleiro feito de vidro de pítida, concentrados numa partida de xadrez aurean, conhecido popularmente como “O Jogo da Sabedoria dos Antigos[12]” com peças feitas de bera´k emitindo seu brilho fluorescente na tênue escuridão dissipada por uma lâmpada suspensa que flutuava rente ao chão.
[5] Oceano mítico encontrado no Planeta da Sabedoria – Solomon – chamado “Malchus” ou “Mar da Emanação.
2 comentários:
Olá!Mysael!
Este Video com esta Musica é uma....não tenho Palavras para descrever estas Suavidades....que Elevão minha Alma ....para á Pureza do meu Espirito.....
Cordialmente Sergio Ferreira Silva
Yaooo...
Cara fazia um tempão que não achava um site tão legal como este, este cara tá de parabéns.
Fazia anos que não via tanta criatividade, é quase como de outro mundo, este tal Misha EL Yehuda tá conectado com o internet divina. Muito Inspirado. Parabéns pela criatividade.
Andava com fome de coisas novas e boas para o intelecto. Os desenhos e histórias são bons demais.
entrar neste site é como vigiar no astral superior. valeu cara!
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