As Runas De Bazäq
Nas cavernas de Baräq[1],
vale ao sul do deserto de Aür, situada dentro de uma antiga cratera, uma
cicatriz provocada pela queda, nos tempos primordiais, de uma grande rocha
celeste, homens e mulheres adentravam a madrugada sentados em círculos de três
pessoas, lendo as Runas de Bazäq[2],
o oráculo místico dos B’nëy Baräq[3],
em busca de informações sobre a vida, sobre os tempos para semear e colher,
casamentos, associações e outros assuntos pertinentes àquela tribo, formada, em
sua grande maioria, pelos descendentes de Baräq, o místico. Havia também os da
Galüt, os Goläim, assim chamados os povos que migraram para o vale e aceitaram
a Tariag Mitzvot – o Código de 613 preceitos da tradição dos B’nëy Baräq[4].
Lâmpadas suspensas forneciam uma luz tênue
e muitas velas feitas de cera extraída das qórem-tamar[5],
misturadas com qinamon, forneciam iluminação esotérica e o aroma da especiaria
para estender a vida e ampliar a consciência. Uma mesa baixa também feita de
madeira de tziporan e com muitas bandejas cheias com tâmaras, se encontra no
centro da caverna pronta para servir a todos.
A Runa de Bazäq é composta por vinte e
oito cartas feitas de fibra de tamareira embebidas em essência de especiaria de
tziporan[6].
Os iniciados são homens, mulheres e adolescentes a partir de trezes anos. Baräq,
o pai da tribo, tinha treze anos quando testemunhou a grande pedra descer dos
céus. Quando
completou duzentos e seis anos, ele migrou para o vale e fundou a tribo dos B’nëy
Baräq. Foi ele o criador da Runa de Bazäq, pois era um místico iniciado nos
caminhos esotéricos do deserto.
Pequenas bandejas de madeira de acácia
cheias com cravos, completavam o hermético ambiente, lançando o aroma dessa
especiaria no ar misturando-o ao já destilado aroma de canela produzido pelas
velas acesas e espalhadas pela caverna.
A tradição de se reunir nas cavernas do
vale de Baräq para ler a Runa de Bazäq é celebrada anualmente na
quadricentésima vigésima sexta madrugada porque, somente nessa madrugada se
torna possível uma abertura chamada, pelos membros dessa tribo, de “Einai
Gavri’ël – Os Olhos de Gabriel” possibilitando a leitura do oráculo e a
revelação dos mistérios.
“Pede para ti ao Ancião Sagrado teu Elohim
um sinal; pede-o, ou em baixo nas profundezas, ou em cima nas alturas (שְׁאַל-לְךָ אוֹת,
מֵעִם יְהוָה אֱלֹהֶיךָ; הַעְמֵק שְׁאָלָה, אוֹ הַגְבֵּהַּ לְמָעְלָה).”
Profeta Isaías
No decorrer da shachar, uma pausa para um
chá feito de especiarias e um momento para contemplar as estrelas e a ascensão
das galáxias satélites de Qédem, acontece durante o tempo de queda de quarenta
e duas mil micropedras de uma sha’on média.
Contam os pergaminhos dos B’nëy Baräq, que
o próprio Baräq previu a invasão de Armilus ao planeta da luz divina e a também
a vitória de An-Nür no dia da batalha final.
Foi Hatá, o errante[7],
quem informou às tropas de Armilus a época na qual o melhor momento para
invadir o planeta seria apropriado. Como era um iniciado na Runa de Bazäq,
consultou o oráculo e informou aos exércitos das trevas, no entanto, o Ancião
Sagrado vetou a ele ver que An-Nür derrotaria Armilus.
No fundo da meurá[8],
um trio de musicistas dedilhava seus instrumentos no segredo da música de
Eithan D’Ezra dos músicos do mundo de Sheliak na constelação de Lyra no exato
momento da ascensão desse aglomerado de estrelas nos céus de Aür.
Lâmpadas
Suspensas
O pequenino akrav passeava pelas areias do
Vale de Baräq deixando atras de si as marcas de seu passeio. Acima, nos céus,
Akrav – a constelação – brilhava intensamente como que desejando revelar os
seus mistérios. Ao longe, sentado à entrada de sua tenda, Baräq observava o
pequeno lacrau notando que, ao passar por cima de uma das pedras que obstruíam
seu caminho, o atrito das patas do pequeno lacrau, fez brilhar a pedra sobre a
qual passou. Foi assim que Baräq, no início do governo dos Ethanim, descobriu o
material do qual são manufaturadas as lâmpadas suspensas, dos fragmentos da
grande pedra que, nos tempos primordiais, caiu do céus naquele vale. Baräq
estava destinado a descobrir o material que chamou Tzöhar[9] já que seu nome,
Baräq, possui o significado sinônimo a Tzöhar.
É o material extraído
desse extenso vale, lapidado em forma de esferas que dá origem às lâmpadas
suspensas usadas em todo o planeta para iluminar residências e cavernas. Sem as
lâmpadas suspensas não há iluminação. Sem lâmpadas suspensas o estudo da
sabedoria não é possível.
E foi assim, revelada
por um pequeno lacrau, que a even-tozhar[10]
foi descoberta e passou a fazer parte do cotidiano de todos os habitantes de
Aür.
- Olhos que pretendem
descobrir a Sabedoria precisam ser iluminados. – Disse, em certa ocasião, Nër,
um dos instrutores da escola da tradição esotérica da tribo dos B’nëy Baräq se
referindo, é claro, as lâmpadas suspensas.
Nër era, além de um
professor da tradição de Baräq, o encarregado de limpar, preparar o óleo e
acender as lâmpadas da candelabra do templo de Bazäq, erigido em Meurat
Há’hitorerut[11], em
seus dias.
Havia também, Mezëg,
o artesão, que foi o primeiro a confeccionar uma lâmpada suspensa usando o
tzöhar encontra no vale de Baräq. Mezëg, como o significado do seu nome, era
genioso, mas era, ao mesmo tempo, talentoso e bondoso para com os membros da
tribo. Por vezes, confeccionava lâmpadas suspensas e as doava aos residentes do
vale.
Ali no vale de Baräq
foi fundada a Ïr-Évenä – a cidade na pedra – escavada na parede leste do vale
com o auxílio do shamir. À noite, um caminho iluminado por lâmpadas feitas de
tzöhar conduzia à Ïr-Évenä onde os rituais da tradição de Baräq seriam
realizados e, devido a estes rituais iluminados por tzöhar, a cidade passou a
ser chamada também de Cidade Luz.
[1] Relâmpago
[2] Flash de
luz.
[3] Filhos do
Relâmpago.
[4] תריג מצות
[5] Tamareiras
reluzentes
[6] Cravo. Uma
alusão ao método de permutar letras com finalidade de revelar mistérios.
[7] Pecador
[8] Caverna
[9] Luz
produzida por uma pequena abertura. Na verdade, o termo Tzöhar é compreendido
como “janela.”
[10] Pedra da luz
[11] Caverna da
Contemplação. Aqui “Meurát (מְאוּרָת)” é escrita com uma grafia construída da raiz de “Ór (אור)” que é
“Luz” para significar “A partir da luz de Hitorerut (הִתבּוֹנְנוּת)” que alude à prática de meditação qabalística.
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