domingo, 27 de dezembro de 2020

As Runas De Bazäq

 


As Runas De Bazäq

 

Nas cavernas de Baräq[1], vale ao sul do deserto de Aür, situada dentro de uma antiga cratera, uma cicatriz provocada pela queda, nos tempos primordiais, de uma grande rocha celeste, homens e mulheres adentravam a madrugada sentados em círculos de três pessoas, lendo as Runas de Bazäq[2], o oráculo místico dos B’nëy Baräq[3], em busca de informações sobre a vida, sobre os tempos para semear e colher, casamentos, associações e outros assuntos pertinentes àquela tribo, formada, em sua grande maioria, pelos descendentes de Baräq, o místico. Havia também os da Galüt, os Goläim, assim chamados os povos que migraram para o vale e aceitaram a Tariag Mitzvot – o Código de 613 preceitos da tradição dos B’nëy Baräq[4].

Lâmpadas suspensas forneciam uma luz tênue e muitas velas feitas de cera extraída das qórem-tamar[5], misturadas com qinamon, forneciam iluminação esotérica e o aroma da especiaria para estender a vida e ampliar a consciência. Uma mesa baixa também feita de madeira de tziporan e com muitas bandejas cheias com tâmaras, se encontra no centro da caverna pronta para servir a todos.

A Runa de Bazäq é composta por vinte e oito cartas feitas de fibra de tamareira embebidas em essência de especiaria de tziporan[6]. Os iniciados são homens, mulheres e adolescentes a partir de trezes anos. Baräq, o pai da tribo, tinha treze anos quando testemunhou a grande pedra descer dos céus. Quando completou duzentos e seis anos, ele migrou para o vale e fundou a tribo dos B’nëy Baräq. Foi ele o criador da Runa de Bazäq, pois era um místico iniciado nos caminhos esotéricos do deserto.

Pequenas bandejas de madeira de acácia cheias com cravos, completavam o hermético ambiente, lançando o aroma dessa especiaria no ar misturando-o ao já destilado aroma de canela produzido pelas velas acesas e espalhadas pela caverna.

A tradição de se reunir nas cavernas do vale de Baräq para ler a Runa de Bazäq é celebrada anualmente na quadricentésima vigésima sexta madrugada porque, somente nessa madrugada se torna possível uma abertura chamada, pelos membros dessa tribo, de “Einai Gavri’ël – Os Olhos de Gabriel” possibilitando a leitura do oráculo e a revelação dos mistérios.

“Pede para ti ao Ancião Sagrado teu Elohim um sinal; pede-o, ou em baixo nas profundezas, ou em cima nas alturas (שְׁאַל-לְךָ אוֹת, מֵעִם יְהוָה אֱלֹהֶיךָ; הַעְמֵק שְׁאָלָה, אוֹ הַגְבֵּהַּ לְמָעְלָה).”

Profeta Isaías

No decorrer da shachar, uma pausa para um chá feito de especiarias e um momento para contemplar as estrelas e a ascensão das galáxias satélites de Qédem, acontece durante o tempo de queda de quarenta e duas mil micropedras de uma sha’on média.

Contam os pergaminhos dos B’nëy Baräq, que o próprio Baräq previu a invasão de Armilus ao planeta da luz divina e a também a vitória de An-Nür no dia da batalha final.

Foi Hatá, o errante[7], quem informou às tropas de Armilus a época na qual o melhor momento para invadir o planeta seria apropriado. Como era um iniciado na Runa de Bazäq, consultou o oráculo e informou aos exércitos das trevas, no entanto, o Ancião Sagrado vetou a ele ver que An-Nür derrotaria Armilus.

No fundo da meurá[8], um trio de musicistas dedilhava seus instrumentos no segredo da música de Eithan D’Ezra dos músicos do mundo de Sheliak na constelação de Lyra no exato momento da ascensão desse aglomerado de estrelas nos céus de Aür.

Lâmpadas Suspensas

O pequenino akrav passeava pelas areias do Vale de Baräq deixando atras de si as marcas de seu passeio. Acima, nos céus, Akrav – a constelação – brilhava intensamente como que desejando revelar os seus mistérios. Ao longe, sentado à entrada de sua tenda, Baräq observava o pequeno lacrau notando que, ao passar por cima de uma das pedras que obstruíam seu caminho, o atrito das patas do pequeno lacrau, fez brilhar a pedra sobre a qual passou. Foi assim que Baräq, no início do governo dos Ethanim, descobriu o material do qual são manufaturadas as lâmpadas suspensas, dos fragmentos da grande pedra que, nos tempos primordiais, caiu do céus naquele vale. Baräq estava destinado a descobrir o material que chamou Tzöhar[9] já que seu nome, Baräq, possui o significado sinônimo a Tzöhar.

É o material extraído desse extenso vale, lapidado em forma de esferas que dá origem às lâmpadas suspensas usadas em todo o planeta para iluminar residências e cavernas. Sem as lâmpadas suspensas não há iluminação. Sem lâmpadas suspensas o estudo da sabedoria não é possível.

E foi assim, revelada por um pequeno lacrau, que a even-tozhar[10] foi descoberta e passou a fazer parte do cotidiano de todos os habitantes de Aür.

- Olhos que pretendem descobrir a Sabedoria precisam ser iluminados. – Disse, em certa ocasião, Nër, um dos instrutores da escola da tradição esotérica da tribo dos B’nëy Baräq se referindo, é claro, as lâmpadas suspensas.

Nër era, além de um professor da tradição de Baräq, o encarregado de limpar, preparar o óleo e acender as lâmpadas da candelabra do templo de Bazäq, erigido em Meurat Há’hitorerut[11], em seus dias.

Havia também, Mezëg, o artesão, que foi o primeiro a confeccionar uma lâmpada suspensa usando o tzöhar encontra no vale de Baräq. Mezëg, como o significado do seu nome, era genioso, mas era, ao mesmo tempo, talentoso e bondoso para com os membros da tribo. Por vezes, confeccionava lâmpadas suspensas e as doava aos residentes do vale.

Ali no vale de Baräq foi fundada a Ïr-Évenä – a cidade na pedra – escavada na parede leste do vale com o auxílio do shamir. À noite, um caminho iluminado por lâmpadas feitas de tzöhar conduzia à Ïr-Évenä onde os rituais da tradição de Baräq seriam realizados e, devido a estes rituais iluminados por tzöhar, a cidade passou a ser chamada também de Cidade Luz.



[1] Relâmpago

[2] Flash de luz.

[3] Filhos do Relâmpago.

[4] תריג מצות

[5] Tamareiras reluzentes

[6] Cravo. Uma alusão ao método de permutar letras com finalidade de revelar mistérios.

[7] Pecador

[8] Caverna

[9] Luz produzida por uma pequena abertura. Na verdade, o termo Tzöhar é compreendido como “janela.”

[10] Pedra da luz

[11] Caverna da Contemplação. Aqui “Meurát (מְאוּרָת)” é escrita com uma grafia construída da raiz de “Ór (אור)” que é “Luz” para significar “A partir da luz de Hitorerut (הִתבּוֹנְנוּת)” que alude à prática de meditação qabalística.

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