domingo, 4 de novembro de 2018

CRÔNICAS DE QÉDEM: - ARGAMAN






ARGAMAN
ID: 144.660.294.207.048


O Arpoador iniciou flutuação antigravitacional no espaço-porto de Pardês – a Capital de Aür – em direção à nascente do Argaman – o rio púpura. A bordo eu, Beniel, S’thur e muitos alunos e mestres da Escola de Mistérios incluindo, Dipankara Vedas, que preparou as lâmpadas suspensas para nossa iluminação, para uma viagem de introspecção e também as chamas levitantes para a Menorá suspensa que está no Heichal Sód Elohai – o Salão do Segredo de D’us – que fica em um compartimento secreto abaixo da popa do Arpoador. Râma[1], o capitão-timoneiro, estava no leme conduzindo a belíssima embarcação como se declamasse uma poesia esotérica. De inicio, nos foi servido café com biscoitos de q’namon os quais provocaram a espanção das nossas consciências. A viagem duraria a queda de 144.000 pedras de nossas shaonim. A bordo também estavam os vinte e quatro Zaqenim – os Anciãos de Aür – que servem com conselhos ao regente do Planeta da Luz Divina, o meu Pai, o mestre Ayyüb. Um cometa riscava os céus velejando as constelações em direção ao sol ocidental de Aür.


O leito do ARGAMAN é uma das mais belas visões de Qédem e constitui um dos maiores mistérios do Planeta da Luz Divina. Visto de cima, seu álveo se parece com uma serpente púrpura se movimentando sobre uma longa e escavada escarpa rochosa e por esta razão o nomearam também de a Serpente Púrpura. A extensão do ARGAMAN é de 248.000 quilômetros.


Ao longo de seu leito ondulado, à direita e à esquerda de suas margens, se encontram as Emüdot Ta’alümot - as 212 colunas de mistérios sobre as quais foram edificadas as chamadas Bëitim Midrashim – as 212 escolas de estudos do Talmude de Qédem, ramificações da Escola Séter e constituem outro dos grandes e belos segredos misticos deste magnifico e iluminado mundo, uma esfinge hermética que ninguém, a não ser aquele que as edificou, poderia explicar. E quem teria sido o edificador de tamanha maravilha? Raziel, diz uma determinada linha, a diretriz 248 no Gimat-Aria: O livro do estudo dos valores numéricos e suas correspondencias ocultas do alfabeto de Raziel.


- S’thur? Você acredita que tenha sido mesmo o Principe dos mistérios que tenha escavado propositalmente o leito do ARGAMAN desde sua nascente até sua foz? – Perguntei nesta ocasião na qual navegavamos eu e S’thur acima da serpentina álvea púrpura a bordo do belíssimo Arpoador, o veleiro construido em Avior[2].


Aah! O Arpoador! Magnífica embarcação, toda ela fabricada com madeira de ilon, ouro e prata. Trezentos e quatorze dormitórios-estudo, todos com clarabóias feitas com vidro transparente obtido a partir da Pítida – a pedra do milagre. O leme, também feito com madeira de ilon com os seus dez manetes folheados a ouro e prata alternadamente. O velame[3] é composto de vinte e seis velas todas feitas com pishtan e cutená[4] e o cordame trançado de tzvá, a fibra luminosa encontrada apenas em Arikh, o mundo do Senhor do universo, Lord Atiká, seiscentas e treze tranças luminosas em cada cordame. Ah! O Arpoador, o veleiro construído em Aviór, um poema náutico criado para singrar constelações e mundos.


- Pelos peyot de Qabël[5]! Beniel? Por que raios você acha que a extensão do leito do Rio, desde sua nascente até sua foz é de exatos 248.000 quilômetros? – Devolveu-me S’thur com um certo sarcasmo expressando aquele sorriso marono caracteristico dele mesmo com o canto dos seus lábios pupúreos semiocultos por sua rala barba. De súbito, Ida[6] despertou e eu senti aquele calafrio percorrer-me a cervical e a iluminação me atingiu e me lembrei da Diretriz 207 no Gimat-Ária: “Ilumine a câmara nupcial de seus Pais porque você é o Grande Espelho dos Uthras, o rei reluzente de todos os Uthras.[7]



- Pelos céus de Atik! E pelas vestes luminosas da Princesa Jáddua! É por esta razão que o leito do ARGAMAN possui 248.000 quilometros de extensão! Pois, 248 é a gematria do nome Raziel! Óh Jáddua, amada princesa da Sabedoria! Que me beije ela com todos os seus beijos! – Exclamei.


- Olha o respeito! – Retrucou, com aquele sorriso maroto nos lábios, o meu amigo S’thur. – E quanto às 212 escolas? Você sabe a razão de serem tantas? – Questionou-me S’thur.


- Bem! Isso eu sei! Haha! – Respondi. – O valor 212 é a numerologia do nome Zôhar que é o titulo do Livro da Iluminação que é o principal nos estudos da Escola Séter! Assim o estudei na diretriz 212 do Gimat-Ária.


- É! Até que enfim ouço alguma Sabedoria vindo destes seus lábios purpureos! Acho que tu andou bebendo bastante das águas do ARGAMAN! – Disse S’thur com outro daquele sorriso maroto nos lábios.


Às margens do álveo do ARGAMAN crescem as Sequóias Reluzentes de Aür em toda a sua extensão e em uma razão perfeita de 583.000[8] árvores luminosas. Dizem que foi o próprio Raziel quem as semeou às bordas do rio púrpura, codificando em seu número um segredo antigo e maravilhoso e à medida em que o Arpoador singrava as nuvens purpuras – as ananim segol - acima do seu leito e nossos olhos contemplavam as sementes luminosas das Sequóias Reluzentes, nos colocavamos a imaginar quantos e quais mistérios estariam escondidos ali, pois, nos foi dito na Escola de Mistérios que, cada semente possui oitenta e quatro segredos divinos. Conta a tradição de Aür que, aqueles que se alimentam das sementes luminosas destas árvores magníficas tem a consciência elevada e ampliada e que conseguem penetrar os mais profundos mistérios divinos.


Abaixo das margens do ARGAMAN, em cavernas escavadas em suas paredes, vivem os Yaqarim[9] cujos os olhos e cabelos são reluzentes devido ao consumo das sementes luminosas. Eles também são conhecidos como os Anashei Sigalon Taluí – Os Povos do Jacarandá Suspenso – árvores de flores roxas que flutuam ao longo do áveo do ARGAMAN ao lado de suas paredes rochosas cujas raízes se alimentam da luz de Mizrach – o sol ócre de Aür. De suas flores se destila a “Medicina da Ascensão”. Essa flor particular é chamada de Azmata[10] devido á sua radiancia roxa.


A viagem durou exatadas 216 sha’ot[11] de contemplação e estudo da Sabedoria iluminada pelas lâmpadas de Dipankara Vedas, desde a nascente até a foz do ARGAMAN a bordo do Arpoador amparada sobre a cama de vozes das canções poéticas de Râma – o capitão-timoneiro - vindas dos lábios dos argonautas estelares, a tripulação do Arpoador. Suas declamações poéticas constituem o Ramsa[12] – o Livro do Poente – que contem as poesias esotericas que são recitadas pelos navegadores estelares de Qédem ao entardecer nos últimos raios solares doados pelo sol ocre antes de se ocultarem atrás das cristas de Hermon - a montanha de Sandalfon - na foz do ARMAGAN.



"Eu vi Sandalfon - o Príncipe Celeste - descer sobre a foz do ARGAMAN e ele tomou um cantaro e mergulhou no Poço de Sheva e me deu de beber das suas águas e quando eu bebi, minha consciência se ampliou e eu vi o segredo de Beer-Sheva – poço das Sete Luzes. Eu vi Sandalfon...”


- O poema de Râma – escrito no Sipra d’Ramsa


No final, na foz do ARGAMAN se encontra a escarpa rochosa de Kadma’a na qual se encontra a caverna de Adam Kásia, abaixo da qual fica o Poço de Sheva guardado por Tahorá – o eremita.
Chegadas as noites, as embarcações suspensas dos Kivunim – os meditantes – iluminadas por lâmpadas suspensas surgem navegando acima do leito do rio e são vistas flutuando sobre o álveo do Argaman. Estrelas maravilhosas iluminam as noites com mistérios escritos nas constelações pelo maravilhoso Cometa Argos que cruza o grupo estelar da Quilha e se torna visivel a cada sete anos e que estava próximo de seu periélio nesta nossa nessiá[13].

A cada crepúsculo, iamos dormir observando, através das clarabóias nos tetos de nossos dormitórios-estudo, os veleiros estelares singrando o universo, navegando as constelações soprados por ventos solares e imaginando as canções entoadas por seus argonautas e os poemas declamados pelos seus timoneiros, mistérios divinos entoados por lábios elevados.


“ – Estelar, estelar! Singra, óh argonauta, as estrelas, navega com tua embarcação as constelações na busca dos mistérios divinos! Estelar, estelar é a minha alma! Singra, óh argonauta, singra...” – Entoava Râma – o capitão.

Nas madrugadas nos encontravamos no Salão do Segredo de D’us em kavanná dianta da Menorá suspensa com intenção de ouvirmos as Vozes dos sábios antigos que emanam das chamas levitantes, centelhas das almas dos mestres ancientes da Escola de Mistérios.


"Que as chamas das minhas velas sejam centelhas das almas dos sábios e que possam os ouvidos da minha neshamá ouvirem as vozes que emanam delas. Baruch atá Atiqá Iomatá gal al yadei lehavót ha'êsh be'qolót chachamim ha'sodót ha'shamayim (Abençoado sejas Tu, óh Ancião de Dias que revelas através das chamas de fogo das vozes dos sábios os segredos dos céus).”


- Bênção da Candelabra




Fim do Séter Sipur




[1] Elevado, superior.

[2] Epsilon Carinae – Estrela Binária na Constelação de Carina

[3] Conjunto das velas.

[4] Linho e algodão.

[5] O sétimo dos Ethanin cujo corpo está preservado no Salão dos Segredos de Qédem.

[6] Correndo ao lado do sushumna nadi, em ambos os lados da coluna, estão os nadis (canais espirituais) Ida e Pingala. Ida se refere às energias chandra (yin) da lua (Malchut) enquanto pingala se refere às energias surya (yang) do sol (Zeir Anpin).

[7] Ensinamento secreto de Abathur-Ramá no Gimat-Ária cujo significado poucos poderão compreender.

[8] A razão númerica cabalista 583 é a gematria da expressão “mi-Sipra d’Adam qadma’ah” que se traduz “a partir do livro do Adão primordial” ou seja, do Livro do Príncipe Raziel.

[9] Preciosos

[10] brilho, radiância

[11] Uma semana, um dia e 22 horas de Aür

[12] Entardecer, crepúsculo.

[13] Viagem de introspecção.

Autor
Dipankara Vedas
"Bën Mähren Qadësh"
MIsha'Ël Ha'Levi

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